quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Amor Interrompido.


_ Ana?

_ Fernando? Tá precisando de alguma coisa?

_ Tô sim. Alias a gente tá. A gente tá precisando conversar.

_ Eu sei que estamos, mas...

_ Mas nada, Ana. A gente precisa conversar e é agora.

Foi pela leitura da urgência nos olhos de Fernando, que Ana apenas limitou-se a acenar com a cabeça e segui-lo até a cozinha do Chalé e parar ao lado do armário de louças de sua avó para ouvi-lo. Ainda que sabendo que ela mesma tinha coisas pra dizer ao futuro cunhado.

_ Quando você abriu os olhos. Naquele dia... Naquele dia meu mundo ruiu, por completo.

_ Fernando, do que você está falando?

_ E foi à segunda vez que você fez isso comigo. Porque a primeira foi quando subiu naquela moto e deixou a minha vida, há dois anos atrás. Nunca vou esquecer. Conhecer alguém na festa de aniversário da sua melhor amiga, e descobrir o amor da sua vida. E ela lhe deixar em menos de doze horas depois.

_ Eu não fiz isso...

_ Pra me machucar? Eu sei, agora eu sei que você brigou com a sua mãe e saiu do jeito que saiu. A gente tinha feito planos...

_ Porque quer falar disso agora? Você vai casar com a minha irmã! Daqui a quatro dias. Não tem porque a gente falar sobre isso.

_ Não tem? Não tem mesmo?! _ E ele se aproximou com dois passos dela de forma ameaçadora, não violenta, mas perigosa para os dois, porque só o calor do corpo dele junto ao dela, e ela podia sentir o incêndio que consumia a si. _ Vai negar o que a gente tá sentindo? O que o seu corpo tá me dizendo agora? O que os seus olhos tão refletindo agora?

E ela quis baixar a vista, queria não fita-lo, não encarar aqueles olhos verdes que ardiam de tão sinceros, porém foi impossível. Eles ficaram a se entreolharem, imersos no sentimento arrebatador que nutriam um pelo outro e guardado por anos. Sabe-se lá de onde veio a força, fato é que Ana de forma rouca e tremula se fez ouvir.

_ Fernando, entende. Eu ainda to me ajustando. Enquanto que pra vocês se passaram 30 meses, pra mim foram apenas dias. Eu ainda não cheguei totalmente aonde vocês estão. Eu ainda sinto aquele dia no sitio, como se fosse ontem...

_ Acontece que comigo é a mesma coisa. Toda vez que eu olho pra você é como se eu tivesse te beijado ontem, no lago atrás da mangueira. _ Aquilo fez Ana se calar, porque por aquela resposta ela não esperava. Fernando a segurou em seus braços de maneira gentil, enquanto seu olhar suplicante reforçava o caos que se passava dentro dele. _ Eu ainda consigo sentir o seu sorriso nos meus lábios quando você me disse que queria ser minha.

Foi doloroso demais o ouvir falar e as lágrimas se fizeram consoladoras de Ana. Fernando estava tão urgente em sua dor que continuou a questionar o objeto de seu afeto.

_ Você foi embora, nem me esperou.

_ Eu tive motivos...

_ Eu sei dos seus motivos. Mas você deveria ter me procurado. A gente podia ter conversado, eu ia te fazer bem. Mas você nem tentou. Abriu mão de algo que estava começando. Entende o que eu passei quando você se acidentou, todos lá chorando e eu sempre poder expressar todo o sofrimento que o seu coma estava me afligindo. Porque quem que ia entender? Ninguém. Sofrer calado vendo o amor da minha vida presa a uma cama.

_ Desculpa, eu não sabia... Mas agora não dá mais, Fernando. Você é noivo da minha irmã! Eu queria. Eu queria também viver com você essa história, mas...

_ Mas o que? Mas você sofreu o acidente? E agora? Agora você está aqui! Viva! Viva e bem na minha frente! _ Ele se aproxima e acaricia o rosto dela enquanto estão os dois ali no dentro da cozinha, ela encostada ao armário de louça. _ E eu toda vez que vejo você só consigo te amar mais ainda. Eu amo t-u-d-o em você.

_ Fernando...

_ Você tá viva, Ana. E o que a gente sente um pelo outro tá mais vivo ainda.

Ana então houve um barulho advindo do corredor e se afasta indo para o outro lado da mesa.

_ Por favor, não faz isso. Não...

_ Não amar você? É isso que você ia me pedir? Pra que eu não amasse você?! Se você queria isso você deveria ter ficado morta!

E aquele grito de dor dele ecoa pela cozinha e cai nos ouvidos de Melissa que entra na cozinha naquele instante segurando uma bandeja de prata quase vazia de salgadinhos.

_ O QUE É ISSO? Fernando, porque você tá dizendo isso pra Ana?

_ Porque eu amo a sua irmã.

E a verdade calou todos os pensamentos e cantos do recinto.

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